Na América Latina, o acesso aos serviços bancários não é tão fácil como em outras partes do mundo. Mesmo quem tem a sorte de ter acesso a um banco deve pagar taxas caríssimas. Além disso, o acesso a outras moedas pode ser limitado.

O que as pessoas da região estão fazendo para superar esses obstáculos? Elas estão adotando as criptomoedas. Todos esses problemas promovem o uso de criptomoedas, e não só por empresas, mas também por indivíduos.

A beleza das remessas de criptomoedas

Meios tradicionais de remessa costumam envolver longas esperas e custos elevados. Felizmente, as criptomoedas não sofrem com esse problema.

Remessas de criptomoedas são não apenas mais rápidas, mas também mais baratas. Não existem intermediários nem cobranças ocultas que acabariam corroendo o dinheiro antes de chegar a seu destino final. Você só precisa descobrir onde comprar bitcoin (BTC), guardar a moeda adquirida e pronto.

Por serem descentralizadas, as criptomoedas não estão vinculadas a nenhum governo ou instituição em particular. Você pode enviar quanto dinheiro quiser a qualquer momento para qualquer lugar do mundo. E não se esqueça: bancos e operadores de transferências de dinheiro (MOT) costumam não operar em fins de semana e feriados, impossibilitando você de enviar dinheiro nesses momentos. E se aparece alguma emergência e alguém da sua família precisa de dinheiro? As criptomoedas podem ser a resposta.

Segundo um relatório da Chainalysis, empresa global de análise de blockchain, US$ 25 bilhões foram enviados e US$ 24 bilhões foram recebidos na América Latina na forma de criptomoedas. O relatório mencionou que “a região representou entre 5% e 9% de toda a atividade mundial com criptomoedas em qualquer mês do ano passado considerado”.

Parcela do valor enviado para a América Latina por moeda

Fonte: Chainalysis 2020 Geography of Cryptocurrency Report [Relatório da geografia das criptomoedas em 2020 da Chainalysis].
As criptomoedas envolvidas nessas operações foram BAT, BCH, BNB, BTC, CRO, CRPT, DAI, ETH, GNO, GUSD, HT, LEO, LINK, LTC, MCO, MKR, MLN, OMG, PAX, TUSD, USDC, USDT, WETH, ZIL e ZRX.

Valor recebido por país e moeda

Fonte: Chainalysis 2020 Geography of Cryptocurrency Report [Relatório da geografia das criptomoedas em 2020 da Chainalysis].
As criptomoedas envolvidas nessas operações foram BAT, BCH, BNB, BTC, BUSD, CRO, CRPT, DAI, ETH, GNO, GUSD, HT, HUSD, ICN, LEO, LINK, LTC, MCO, MKR, MLN, OMG, PAX, PAXG, TGBP, TUSD, USDC, USDT, WETH, ZIL e ZRX.

Os dados do relatório demonstram que o bitcoin domina esse espaço, com o tether (USDT) bem atrás como segundo colocado. Esse dado surpreende, pois o USDT tem geralmente uma presença pouco inferior ao bitcoin, já que stablecoins permitem manter o valor do dinheiro e colher as recompensas do uso de criptomoedas. Tem medo da volatilidade? Pois então compre tether e mantenha total paridade com o dólar americano, já que 1 USDT vale sempre 1 USD.

Em comparação com o USD, o USDT é muito mais rápido por ser mais acessível. Dependendo do seu país, você provavelmente vai precisar dar muitas voltas para fazer o câmbio do seu dinheiro. Em alguns casos, pode até mesmo haver uma limitação no valor permitido para esse câmbio. Já com o USDT, você pode fazer o câmbio do valor que quiser em poucos minutos. Além disso, o tether pode ter uma aceitação mais ampla, já que o uso do dólar é limitado a países onde seu curso é considerado legal, como os Estados Unidos.

Criptomoedas como reserva de valor

Já mencionamos que países de toda a América Latina estão sofrendo com o problema da hiperinflação. Isso significa que suas moedas correntes estão passando por uma grande instabilidade. Imagine o valor do seu dinheiro caindo mais e mais a cada dia. Isso não é nada agradável, certo? É por isso que o volume de negociações com com bitcoin na América Latina está disparando. As pessoas precisam de uma moeda que funcione melhor como reserva de valor.

Obviamente, como algumas criptomoedas cumprem esse papel melhor que outras, é preciso escolher. Mas usemos o BTC como exemplo.

Três coisas fazem do BTC uma ótima opção como reserva de valor:

  1. Portabilidade. Sua carteira nunca fica cheia demais para caber no bolso, já que o BTC fica guardado em uma carteira digital, provavelmente o seu próprio smartphone.
  2. Fungibilidade. Não importa quantas moedas você tenha, todas têm o mesmo valor.
  3. Divisibilidade. O preço do bitcoin está em níveis recordes, mas isso não quer dizer que é uma moeda cara de conseguir. Você pode comprar frações de um bitcoin e colher os benefícios da criptomoeda sem precisar gastar US$ 19 mil (1 BTC = 19.301 USD) no momento em que este artigo é escrito.

Com as criptomoedas como o bitcoin se tornando uma ótima reserva de valor, pessoas que estão sofrendo com a instabilidade de suas moedas correntes vêm recorrendo cada vez a mais moedas digitais como meio de preservar seu patrimônio.

Plataformas peer-to-peer como um ótimo achado

Como o acesso a bancos é limitado na América Latina, muita gente não consegue participar de transações on-line. Mercados peer-to-peer (P2P) de criptomoedas pode ser uma solução para esse problema.

Eles funcionam como um passaporte financeiro que permite que pessoas com pouco ou nenhum acesso a serviços bancários realizem transações on-line, especialmente no continente latino-americano.

Correlação entre o volume de comércio P2P e a taxa de câmbio da criptomoeda nativa

Fonte: LocalBitcoins, Paxful via CoinDance.
Moeda analisada: BTC

As barras no gráfico acima mostra que as pessoas desses países estão adotando a criptomoeda como reserva de valor, especialmente quando suas moedas correntes passam por hiperinflação.

Com o aspecto peer-to-peer integrado ao sistema de negociações, a volatilidade das criptomoedas se torna irrelevante. O alto preço do bitcoin não importa se você estiver negociando um gift card. As pessoas estão obtendo benefícios reais e encontrando oportunidades reais de ganhar dinheiro com esse tipo de negociação, o que revela o quanto as finanças P2P são revolucionárias.

Tendo a América Latina como exemplo

Há muito a aprender com o modo como as pessoas usam criptomoedas na América Latina. Isso nos mostra que as criptomoedas não são apenas ferramentas de investimento; são muito mais do que isso. Elas podem ajudar você a fazer aquela compra tão desejada (até então impossível sem acesso a nenhum banco), enviar dinheiro a algum parente de forma rápida e barata, ou simplesmente a ter um meio de vida.

Com a evolução das criptomoedas, acreditamos que vamos começar a ver cada vez mais casos de uso. As pessoas encontrarão mais e mais formas de usar criptomoedas em suas vidas cotidianas. E à medida que nos aproximarmos da consolidação de sua adoção, veremos essas novas oportunidades como algo normal. Mal podemos esperar por isso!